terça-feira, 31 de maio de 2011

A CULTURA, O CONHECIMENTO E A INFORMAÇÃO

 
" Um menino caminha
e caminhando chega num muro...
E ali logo em frente a esperar pela gente
o futuro está...

E o futuro, é uma astronave
que tentamos pilotar...
não tem tempo, nem piedade
nem tem hora, de chegar
sem pedir licença muda a nossa vida
e depois convida à rir ou chorar

Nesta estrada
não nos cabe conhecer ou ver
o que virá...
O fim dela
ninguém sabe bem ao certo
onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
de uma aquarela
que um dia enfim
descolorirá."

Toquinho
Aquarela


Alguns momentos da história são verdadeiros divisores do tempo, isso vale para todos os setores da humanidade, economia, arte, saúde, guerras, etc... e no esporte vale a mesma lei. Em 1974 quem já havia nascido e tinha idade suficiente para entender o futebol de forma mais complexa acompanhou a seleção holandesa e se apaixonou. Em 1982 o Brasil gerou o mesmo sentimento. E agora em 2011 o FC Barcelona nos propicia outro novo paradigma.



É comum dois comportamentos quando esses fenómenos acontecem:

1 - A CÓPIA: Os que copiam o fenómeno de forma reprodutora, sem conhecimento, pela "febre" do momento, e acabam fracassando por motivos diversos, e passam a entrar pro segundo grupo.

2 - A LENDA: Os que dizem que isso nunca irá se repetir, pois não tem os jogadores para isso, ou que o clube não tem essa cultura, ou que só aquela equipe poderia fazer tal coisa.

Para mim as duas coisas são na verdade falta de conhecimento sobre o fenómeno que se quer produzir, o que é diferente de reproduzir.



A CULPA DA CULTURA

Cheguei a conclusão de que a cultura do clube hoje é uma das desculpas que se dá para se acomodar em formas antigas de se ver o futebol, principalmente aqui no Brasil. É comum se colocar a culpa na cultura.

CONCEITO SIMPLES DE CULTURA

Wikipédia:

Cultura (do latim colere, que significa cultivar) é um conceito de várias acepções, sendo a mais corrente a definição genérica formulada por Edward B. Tylor, segundo a qual cultura é “aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.

A CULTURA, A INFORMAÇÃO E O CONHECIMENTO

Como vemos, a cultura é uma composição de variáveis que se influenciam, interagem, dentre elas o conhecimento, ou seja, quando determinada cultura nasce ela depende do que se conhece, ela nasce da composição de conhecimento de determinada sociedade. Logo uma nova informação pode mudar esta cultura. Essa mudança antes era muito mais lenta, pois as informações chegavam muito depois de acontecer em outras culturas, por exemplo: o WM quando chegou no Brasil, e acabou gerando a Diagonal com Flávio Costa, chegou muitos anos depois de ser desenvolvido por Herbert Chapman no Arsenal, pois na época a globalização da internet não fazia parte da cultura de nenhuma sociedade.


Portanto o que fez Flávio Costa gerar a Diagonal, foi a informação, ao fazer jogos amistosos contra equipes argentinas e ser goleado, Flávio entendeu esta nova informação, teve acesso e desenvolveu um novo conhecimento, que acabou gerando a Diagonal, que por sua vez acabou com adaptações futuras do 4.2.4 gerando o 4.4.2 quadrado, e modificando toda a história do futebol brasileiro, pois do 4.2.4 surgiu o 4.3.3 do velho Zagallo que fechava o meio, estrutura essa que deu (não dando todo o crédito a isso, mas ajudou) ao Brasil dois títulos em 58 e 62, e tornou-o conhecido após isso como "o pais do futebol". Eu me pergunto, será que se Flávio Costa não tivesse sido goleado pelos argentinos, adaptado essa estrutura ao Flamengo, e modificado nosso contexto, será que seríamos hoje o que somos em termos de importância no futebol mundial?

O MEDO DE ERRAR TRAVA A EVOLUÇÃO

Para mim o problema maior não esta na cultura, e sim na cabeça dos treinadores, na valorização das coisas. O FC Barcelona só chegou neste ponto, de jogar como joga e ganhar, porquê primeiro se preocupou em jogar bem, jogar bem da sua forma, como vemos hoje, foi isso que treinaram e treinaram muito e jamais se contentaram em apenas ganhar. Só se preocuparam com isso depois que sabiam como jogar bem. É acreditar em uma ideia e não modifica-la por causa dos obstáculos. Porém nem sempre ganharam. Lógico que fazer isso em um altíssimo nível é impossível, porém falo aqui dos baixos níveis, das escolinhas, das categorias pequenas, da formação.

Eu pergunto, qual clube que não quer ter a cultura de jogar bem e ganhar? (existem muitas formas de jogar bem, mas convenhamos que a forma de jogar bem do Barcelona é hoje considerado pela maioria dos jogadores e treinadores como a mais bonita)

Qual o clube hoje no mundo não queria ser o Barcelona (em dimensões de sucesso)? 

Se Rinus Michels tivesse medo de errar em 1974 teria feito um bloco ultra baixo contra Argentina, Uruguai, Brasil, e teria saído da Copa como entrou, sem nenhuma moral no futebol mundial. É preciso assumir o risco, mas só assume quem acredita no que quer.



O CONTEXTO GERA A CULTURA E A CULTURA GERA O CONTEXTO

Guardiola não tinha em sua equipe Cruyff, Neskens, Van Hanegen, Falcão, , Romário, Stoichkov, Koeman, Zico ou Sócrates. Tinha apenas a ideia de que, aquele jogo, aquele modelo que encantou tantas pessoas em 1974, em 1982, e no Dream Team de Cruyff, e que foi conservada nas últimas décadas, amadurecida até chegar neste ponto, porém um dia, um preciso dia essa ideia nasceu, alguém tem que começar. Ai alguém vai dizer, mas tem o Xavi, o Iniesta, mas estes jogadores só existem hoje, porquê a 15 anos atrás eles já buscavam esta forma de jogar, e o contexto acabou produzindo estes atletas, tenho certeza absoluta que se o contexto fosse privilegiar o resultado final, estes atletas nem entrariam na escolinha do Barcelona, pois vão totalmente contra a ideia do futebol competitivo, ainda mais o pregado na década de 80/90 em que a força e o nível atlético dos jogadores foram transferidos ao atletismo e aos esportes individuais. A cultura gera o contexto, porém o contexto pode mudar se colocarmos novas informações vindas de novos conhecimentos, geramos assim um novo contexto, e este contexto irá gerar novas pessoas.


ALGUÉM PRECISA COMEÇAR

Quando Cruyff e Michels chegaram no Barcelona, o clube não tinha esta cultura, se estes por sua vez tivessem se adaptado totalmente a cultura vigente, hoje, não teríamos o atual Barcelona. Lógico que há o respaldo, o crédito, o tempo (mais de 30 anos). Certa vez o professor Afonso Gomes, em uma das diversas cadeiras que tive com ele disse: quando chegamos em um ambiente temos que ser "agentes modificadores" desse ambiente, não podemos nos adaptar a ele totalmente, a adaptação tem que ser apenas ao ponto da sobrevivência.

PRECISAMOS SER MENOS SUPERFICIAIS

Então minha esperança é que a febre do FC Barcelona se espalhe pelo sistema circulatório do futebol mundial, e que sistemicamente o futebol melhore, e que a hierarquia também melhore, o melhor não ganha sempre, mas normalmente joga melhor. E quando falo de começar, não é no Manchester ou no Real Madrid, é nas escolinhas, nos pequenos clubes de base, onde o futebol começa, lá este modelo de jogar o futebol deve ser adotado, pois é o modelo mais coletivo e qualificado demonstrado até hoje, de forma global, é um modelo que propicia o aparecimento das qualidades de cada um em prol do todo da equipe, por isso é fundamental que a partir desta ideia os treinadores elaborem seus conceitos, variáveis, mas seguindo esta qualidade, esta filosofia, não teremos outros Barcelonas, mas quem sabe não teremos jogadores melhores, equipes melhores, competições melhores, modas melhores.

Grande abraço
Luis Esteves

sexta-feira, 27 de maio de 2011

CRIAÇÃO E ENTRADA NOS ESPAÇOS

" O futebol que eu defendo se baseia em alguns automatismos coletivos que estão acima das individualidades. 

O que é técnica? Controlar, passar, chutar, cabecear, driblar... E os espaços? Aqueles poucos que, se os tiveres, terás a vantagem. Os espaços Estão ai, mas é preciso cria-los. E para isso precisas dominar a técnica, o jogo de posições e o ritmo da bola. Jogar como equipe é obter o máximo de vantagem para os teus jogadores.Ataca bem e te defenderás com qualidade, atacas mal e sofrerás.

O barômetro esta no meio-campo, é ai que se decide o que fazer, se ataca mais ou menos, se defendes mais avançado ou atrás. Um meio-campo pode atacar e acercar-se da área, mas já não é mais meio campo. Ás suas costas,  outro deve ocupar o espaço que ele deixa. Teu adversário joga com 10. Admitamos uma falta a 30 metros. Poe dois jogadores abertos com possibilidade de receber o passe, o adversário terá de retirar dois defensores de sua área. Abre-se o espaço.

Tudo passa pelo passe simples. Não me refiro ao passe de 60 metros, que são raros, mas do passe fácil, de 10 metros, que esse acontece cem vezes num jogo. Se for feito em dois toques, no máximo, no pé e de frente, a vantagem será tua e o problema do adversário. Mas se receberes devagar e atrás, terás que parar e retroceder para controlar a bola. Adeus aos espaços, adeus as vantagens."

Johan Cruyff
ZERO HORA - Coluna de Ruy Carlos Ostermann
Sábado - 13/03/2004



Uma das coisas mais difíceis para as pessoas que trabalham com o futebol, e para os jogadores principalmente é a percepção do tempo, o tempo de fazer determinada ação. A percepção do tempo está dentro do momento digamos, do antes, do agora e do depois, a duração é relativa.

A maior parte dos jogadores só consegue "ver" o agora, só detecta os acontecimentos quando já estão neles, não conseguem antecipa-los, e essa falta de antecipação, normalmente gera dificuldades, principalmente quando jogamos contra equipes que sabem pressionar (no caso aqui falo do momento ofensivo, mais especificamente da 2ª e 3ª fase de posse e circulação, que seriam CRIAR ESPAÇOS + ENTRAR NESTES ESPAÇOS E FINALIZAR).

Reparei que a maior parte dos atletas só consegue se desmarcar por exemplo, quando são linhas de passe muito evidentes, linhas em primeira estação como dizem os portugueses, ou seja, aquele jogador da posição seguinte - Exemplo: Relação Zagueiro - Lateral.

Existe uma certa dificuldade de prever próximas ações, por exemplo, uma bola em posse com o 1º volante, em que este esteja com o corpo mais propenso a entrar para o lado direito (Jogando em um 1.4.4.2 Losango por exemplo), o atacante do lado esquerdo já ir buscar um ESPAÇO entre linhas que, pode em breve ser aproveitado. O que ocorre é que este jogador só busca um espaço, quando é muito evidente que a bola será passada para ele, e isso acaba sendo sempre uma referência de pressão, o que faz com que este jogador ao receber, tenha a bola sempre de costas, ou seja desarmado, pois a recepção de costas é uma referência de pressão para a maior parte das equipes que tenha a zona pressionante e a pressão como comportamento defensivo.

Portanto torna-se fundamental uma antecipação de ações ofensivas coletivas, com uma grande percepção de ações futuras, baseadas nas ações do momento.

Porém mais importante que perceber isso, é conhecer isso, e os jogadores, em níveis inferiores (Juvenis, Infantis, e até mesmo Juniores,e alguns jogadores profissionais também) não conhecem as possibilidades de criação e aproveitamento dos espaços.

Os espaços em breve serão tema de postagem maior, neste momento vou apenas citar de forma simples em um exercício onde pode-se encontrar espaços por exemplo, em uma linha de quatro jogadores com dois volantes a frente, e alguns comportamentos que ajudam no processo.

Uma questão é importante: Onde estão os espaços?

Para mim os espaços estão entre as linhas do adversário, nos locais não ocupados, no lado contrário ao lance, na profundidade, e a sua criação depende da mobilidade dos nossos jogadores sem a bola.



O jogador com a bola pode criar linhas de passe, fazendo uma condução por exemplo e criando superioridade em outra zona, exemplo: Meia com a bola em condução para a linha de defesa adversária acaba gerando superioridade ou igualdade numérica, princípio fundamental de ataque e defesa.

Lógico que o exercício abaixo proposto pode sofrer diversas alterações, inclusive com uma progressão de "sem oposição" para "com oposição". Porém para "ver" os espaços, acredito primeiro ser interessante retirar a oposição, e quando este entendimento estiver eficiente, ai a criação de oposição será útil, pois exigirá mais timming dos jogadores.

Alguns comportamentos-referência importantes:

- Jogo Frente / Costas: Utilizar esta referência simples de, se receber de costas, servir como apoio para que está de frente, dando velocidade a ação, e evitando a perda da bola por não ter a visão da goleira adversária. Ao ser solicitado neste jogo frente/costas tentar rapidamente criar uma nova linha para novas ações, de preferência de frente para a goleira.

- Jogo Entre Linhas: Utiliza-se essa referência para a entrada entre linhas, entre os setores, nos espaços vazios, de preferência nas costas dos marcadores. Por exemplo: O FC Barcelona faz isso com Messi, jogando praticamente com um 1.4.4.2 Losango, com dois pontas abertos e Messi criando superioridade no meio nas costas dos volantes, gerando 4 jogadores nesta zona. As vezes ele faz isso mais abaixo ainda, trocando de função com outros jogadores do setor. Este é um exemplo de Jogo entre linhas e de criação de superioridade na zona da bola.

- Infiltrações e Ultrapassagens: Situações de entrada nos espaços, de homens vindos de outro ou do mesmo setor para receber a bola em situação de finalização, também conhecido como homem surpresa.

- Mudança de direção com e sem bola: Situações de mudança de direção dos jogadores para receber (desmarcações) e a direção da bola em domínios ou conduções, buscando uma quebra de tendência, consequentemente a previsão do adversario do próximo lance. Para evitar que esta quebra também quebre as previsões da nossa equipe devemos ter um bom jogo posicional, que permite uma previsão de linhas de passe futuras, mais a frente, mais atrás, mais fechadas ou mais abertas.

- Criação de Linhas diagonais: Procurar sempre entrar em situação de progressão. Evitar bolas paralelas, ao lado, onde a bola não progride. Sempre que possível receber a bola uma linha a frente, para conseguir buscar o gol ou a assistência. Porém ai torna-se fundamentar o conceito de zona pressionada, é preciso verificar onde há pressão, e saber se dá ou não para entrar em determinado espaço.

- Cuidado com o tipo de passe, condução e domínio da bola: É fundamental que, para a visualização dos espaços, a bola seja rapidamente recebida, no pé, de preferência o dominante, e a frente, evitando o jogo de costas. O controle da bola, evitando divididas, e a condução se necessária também são importantes.

- Timming: Perceber o melhor momento de entrar, perceber o melhor momento de passar (no pé ou no espaço), onde esperar pela bola, o melhor momento de finalizar, é o timming, que é o segundo exato de fazer a ação, um segundo a mais ou a menos erra-se.

- Ritmo da bola: É fundamental manetra a bola em movimento. Os espaços também são vistos pelos adversários, e são eliminados normalmente quando a bola para, ou seja, os adversários normalmente, quando temos a bola, estão olhando para ela, é o centro do jogo, logo se mantivermos ela em movimento sempre, conseguiremos aproveitar os espaços.

SITUAÇÃO DE JOGO:


Representação da situação de jogo comum, de 5 x 7. Neste caso a superioridade defensiva pode atrapalhar a propensão do ataque em criar as situações de finalização. Então é fundamental em contextos iniciais que ocorra um sucesso maior ao que se quer treinar, gerando uma maior progressão com o desenvolvimento do coportamento desejado.

ALGUMAS POSSIBILIDADES DE AMPLITUDE E PROFUNDIDADE DE JOGO GERADAS  COM A MOBILIDADE DOS JOGADORES DENTRO DA ESTRUTURA:

 Abertura dos atacantes, podendo receber a bola no espaço entre os laterais e os zagueiros.

 Entrada de um volante nas costas do meia, neste caso é necessário um mecanismo de compensação pois o jogador irá se distanciar bastante da sua zona de ação e em casos de contra-ataque poderá haver uma exposição do setor.

 Entrada do meia no espaço entre os zagueiros, recebendo a bola na última linha do adversário.

EXERCÍCIO - CRIAÇÃO DE ESPAÇOS, APROVEITAMENTO E FINALIZAÇÃO:


Contexto do Exercício: Os jogadores estão posicionados em um 1.4.4.2 Losango, contra uma defesa em linha + dois volantes, representados pelas barreiras.

Pedagógicamente coloquei os cones brancos representado possibilidades de espaço, para que haja uma visualização dos mesmos antes do acontecimento.

Também para aproveitar o exercício, coloquei uma finalização extra para o meia ou volante, de preferência de fora da área, que ocorre após a finalização da jogada.

1 QUADRO: 


 Espaços para a assistência, em situação de finalização direta ou nova assistência.

2 QUADRO:


Locais mais propícios (por dentro) para a recepção da bola para efetuar o jogo frente costas, e servir como ponte de progressão de jogo.

3 QUADRO:
  

Exemplo de combinação. 


 FInalização da jogada e segunda finalização.

4 QUADRO:


Relação importante de busca e profundidade, um atacante descendo para receber a bola e servir como ligação, e outro atacante dando profundidade para receber a assistência.

Grande abraço
Luis Esteves
la_futeboll@hotmail.com

quinta-feira, 26 de maio de 2011

EXERCÍCIO


EXERCÍCIO DE CIRCULAÇÃO SIMPLES COM FINALIZAÇÃO

Exercício que visa a circulação da bola em passes diagonais e frontais. Também existe uma pequena finalização no caso ai em uma mini-goleira.

Como questionou em outra postagem similar, o professor Blessing Lumueno, este tipo de exercício tem algumas particularidades. Acredito que uma equipe que tem como base uma metodologia que se baseia (em grande parte) neste tipo de exercício terá sérios problemas quando a equipe estiver jogando 11 x 11, pois a propensão de tomada de decisão deste não retrata a complexidade verdadeira do jogo.

Porém é um exercício auxiliar, que pode ser utilizado para potencialização de:

- Fundamentos: Que se treinados em uma complexidade maior, digamos que de 10 x 8 em estrutura, em que mais elementos entram e dividem a atenção dos jogadores (dependendo da progressão complexa) , podem não ter a atenção necessária, pois quanto mais complexo o exercício, mais difusa será a atenção, e consequentemente as correções serão afetadas pois a tendência é a valorização do mais complexo;

- Aquecimentos: Pode ser utilizado como aquecimento, dentro de uma variante de exercícios, que seguem a mesma lógica, mas com contextos diferentes;

- Exercícios de recuperação: Pela sua baixa solicitação física, pode ser utilizado para a recuperação mental e física de exercícios maiores, com maior grau de complexidade.

Grande abraço
Luis Esteves

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Professor Ariel Lanzini e eu, em um treino. Mais um grande profissional que tenho a sorte de trabalhar. Mais um grande treinador vindo do Grêmio FBPA.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

PRINCÍPIOS TÁTICOS DO JOGO DE FUTEBOL



Alguns princípios e sub-princípios que podem ser absorvidos para modelos de jogo no futebol moderno. O quadro resume bem os objetivos e comportamentos que hoje se vê em grandes equipes do futebol mundial. Parabéns aos autores (Professores Israel Teoldo, Júlio Garganta, Juan Pablo Greco e Isabel Mesquita) , o título do artigo original foi abaixo citados na referência bibliográfica.



Fases/momentos de jogo, objetivos e princípios táticos gerais, operacionais e fundamentais do jogo de Futebol (baseado em GARGANTA; PINTO, 1994)
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

COSTA, Israel Teoldo da;GARGANTA, Júlio Manuel; GRECO, Pablo Juan, MESQUITA, Isabel. Princípios Táticos do Jogo de Futebol: conceitos e aplicação.  Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.657-668, jul./set. 2009.
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Grande abraço
Luis Esteves

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A IMPORTÂNCIA DE "TER" MODELOS


 

"No, ganar o perder no tiene nada que ver con jugar bien. Ni pasas a tener razón porque ganas, ni tampoco la pierdes por no salir vencedor."

Johan Cruyff
El Periódico

Quando um jogador inicia sua carreira na base do Santos Futebol Clube hoje, ele tem quem como modelo (principalmente os aspirantes a atacante)? Neymar, assim como Neymar teve Robinho, e Robinho teve Pelé, e Pelé teve seus modelos também.

O modelo é importante para nos dar um parâmetro de qualidade, do que achamos possível ser feito de forma que agrade a nós, e ao ambiente em que vivemos.

Vejo assim o FC Barcelona hoje, é um modelo de equipe, que apresenta determinadas caracteristicas possíveis de serem copiadas de forma positiva por outras equipes, afim de tornar o futebol em sí um jogo mais agradável de ser visto, um jogo mais coletivo, sem perder a qualidade individual.

O Shaktar Donetsky por exemplo, joga de uma forma muito parecida ao Barcelona, pelo menos me pareceu nos dois jogos da Liga dos Campeões, em que o Barcelona goleou, mas poderia ter sido goleado também.
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USANDO O MODELO

Vídeo em que apresentamos algumas situações pretendidas pela então equipe junior do EC Cruzeiro.

Num segundo momento coloquei uma edição de vídeo do FC Barcelona em que cito alguns comportamentos que a equipe apresenta e apresentou no decorrer do ano inteiro. A edição não é minha, não sei quem é o responsável pois não indica no vídeo.




Em outro momento vou utilizar este vídeo do EC Cruzeiro jovamente (vou refazer a postagem sobre organização ofensiva) pois acredito que fica fácil de verificar que conseguimos passar por todos os momentos do jogo (Iniciamos em Transição Defensiva após uma jogada, entramos em Organização Defensiva, entramos em Transição Ofensiva e Terminamos em Organização Ofensiva com o gol), dando ênfase na Organização Ofensiva, e dentro desta conseguindo ter êxito nas 3 fases que acreditamos serem pertinentes:

1 - Organização
2 - Criação de Superioridade"s" / Espaço"s"
3 - Aproveitamento dos espaços e Finalização

Junto com isso algumas coisas aparecem, como jogo frente costas, entre linhas, abertura e profundidade, criação de linhas, dentre outros.


Um assunto interessante é a reprodução deste modelo do FC Barcelona em outras equipes que não o próprio FC Barcelona. Neste vídeo dos juniores do Cruzeiro facilmente se identifica movimentos parecidos, e me pergunto, será correto "copiar" este tipo de modelo de jogo, com adaptações contextuais, claro, mas seguindo a mesma filosofia?


Cada vez mais acredito em minhas experiências de campo, que a maior parte dos erros cometidos pelos jogadores da base, principalmente em juvenis e juniores , ocorrem pela preocupação em ganhar o jogo, tornando este um jogo muito mais rápido do que a natureza do momento permite, um jogo descontrolado, e para mim, isso é culpa do modelo de valorização, que acaba condicionando os modelos de jogo das equipes destas idades.


Pensemos então, se valorizarmos modelos como o do Barcelona, do Shaktar Donetsky (pra não ficar só no Barcelona) não estaremos formando jogadores com menos pressa e com mais qualidade, vivendo mais o jogo?


É possivel fazer isso com outros modelos? É, porém, na maioria deles a participação dos jogadores se reduz com a bola, consequentemente a propensão de aprendizagem e participação ativa também cai, muitas vezes por nem dar tempo de tomar conciência do processo, é comum ver isso em categorias sub-10 ou sub-11 em que as equipes iniciam suas organizações com um balão do zagueiro, para um atacante que normalmente parte para um lance 1x1 e a partir dai o acaso toma conta. Porém o que leva os treinadores a acreditar nesse tipo de jogo? O resultado, um zagueiro pequeno em termos de idade ao tentar sair jogando por exemplo, pode errar pela sua falta de conhecimento sobre as opções, timmings, percepção e tomar o gol, e consequentemente a equipe pode perder por causa disso. Porem esse erro pode ser o inicio do acerto, o conhecimento e o aprendizado passam pelo erro, não podemos blindar os atletas, temos sim é que acreditar em "um" futebol independente da idade.


E para finalizar, será que o pessoal do FC Barcelona inventou este modelo? Ou apenas aperfeiçoou a cópia da seleção holandesa de 1974?

Alguns clubes tradicionais tem modelos diferentes deste acima proposto inclusive quase como estatutos do clube, muitas vezes até o oposto do que mostrei acima, porém se hoje a Inter de Milão, que foi Bi-campeâ Europeia com Helenio Herrera com o velho Catenaccio nos anos 60, (inclusive segundo alguns inventando á figura do Líbero e até mesmo da Defesa com 3 Zagueiros já que ele muitas vezes usava uma linha de 4 com um Líbero atrás, jogando com 5 alí), E Mourinho vencendo tudo na Itália jogando na maior parte das vezes com um 1.4.3.3 e um Losango bem ofensivo, e não me lembro de alguém ter dito que isso agrediu a cultura defensiva italiana gerada lá pelos resultados do Herrera.
 
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Grande abraço
Luis Esteves

sábado, 14 de maio de 2011

O NASCIMENTO DE UM MODELO


"Cuando yo llegue al Barça en el 88, el Madrid tenía el que para mí ha sido su mejor equipo en los últimos 40 años. La Quinta del Buitre. Llegué y llevaba tres ligas consecutivas. En Barcelona todos lloraban. Los árbitros tenían la culpa de todo. Madriditis, al fin y al cabo. Ellos eran mejor y, claro, ganaban. Lograron dos títulos mas, pero nosotros fuimos creciendo. Soportando que ellos fueran mejores, pero creciendo. Hasta que un día, jugando tan bien como ellos o incluso mejor, les ganamos. El Dream Team contra la Quinta.

Ganamos cuatro ligas consecutivas, pero ellos seguían siendo muy buenos. Y pudieron ganar dos de aquellas ligas. A un equipo fantástico, por muy fantástico que sea, lo puedes llegar a vencer jugando bien. Pero si eliges el camino equivocado, te puedes quedar sin nada."

Johan Cruyff
El Periódico
 

Todo nascimento é dolorido, o processo de nascer exige uma luta terrível da mãe para com o bebê para que este venha a nascer, o tempo é relativo demora mais para uns menos para outros, porém é sempre difícil, mas se houver paciência, se houver superação, e se o processo for respeitado, a criança nasce, cresce e tem sua vida, porém alguns morrem no parto. As vezes inclusive a mãe.

Para mim esse processo da natureza se dá também em organizações, em equipes de futebol, quando você estabelece um novo conceito, existe o nascimento deste, e se nas primeiras dificuldades, nos primeiros problemas, dores, desistirmos, o modelo morre na casca. Eis o problema dos valores. Eis os problemas dos diretores.

Gosto muito da hipótese do Garganta sobre a progressão dos modelos, e realmente acredito que elas sigam este caminho:
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MODELO RUDIMENTAR
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- Jogo estático, não orientado, jogadores centrados sobre a bola, excesso de verbalização.

- Os jogadores perseguem indiscriminadamente a bola, aglutinando-se sobre ela;
- Dificuldades na relação com a bola (Domínio, Controle, Proteção, Passe... etc.);
- Utilização sistemática da visão para olhar a bola, impossibilitando a "leitura" do jogo;
- Imobilismo dos jogadores sem bola, excesso de verbalização;
- A circulação da bola não é voluntária;
- Sucessão de ações isoladas e explosivas sobre a bola.

MODELO INTERMEDIÁRIO

- Jogo estático, orientado, jogadores centrados sobre o passe.

- Ocupação mais racional do terreno de jogo, embora pouco eficaz, pois é pouco móvel, estático;
- Existência de blocos de jogadores estáticos que trocam passes entre si;
- A visão (Central e Periférica) vai sendo aos poucos "libertada" para ler o jogo;
- Todo o encadeamento de ações necessita de uma paragem Bola-Jogador;
- Pouca agressividade ofensiva.

MODELO AVANÇADO

- Jogo dinâmico, orientado, jogadores centrados sobre a finalização - Gol

- Jogadores organizados em funções de finalidades diferentes;
- Agressividade ofensiva;
- O portador da bola joga de cabeça levantada para "ler" o jogo;
- Alternância do jogo em largura e profundidade;
- As ações são organizadas em função dos alvos – goleiras;
- As ações são encadeadas;
- Privilegia-se a Comunicação Motora, em detrimento da Gestual e Verbal. 

A questão é, respeitamos este processo? A metodologia nos possibilita os métodos, e os métodos vão nos deixar mais ou menos tempo em cada um destes níveis de modelo. Inevitavelmente iremos cair na questão do tempo e do resultado, os cânceres do nosso tempo.

Ah, mas alguns preferem a cesariana, mesmo que o parto normal seja em termos percentuais muito mais seguro para a mãe e para a criança.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

GARGANTA, J; Competência de ensino de jovens futebolistas. Universidade do Porto/ Faculdade de Ciência do Desporto e Educação Física. Rev. Digital, ano 8, fev. 2002.

terça-feira, 10 de maio de 2011

A ÁGUIA E A GALINHA


A Águia e a Galinha

Era uma vez um camponês que foi a floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Coloco-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:

- Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.

- De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu criei como galinha. Ela não é mas uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.

- Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar ás alturas.

- Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.

Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:

-Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não a terra, então abra suas asas e voe!

A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas. O camponês comentou:

- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!

- Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia.

E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.

No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe:

- Águia, já que você é uma águia, abra as suas asas e voe!

Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.

O camponês sorriu e voltou à carga:

- Eu lhe havia dito, ela virou galinha!

- Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma ultima vez. Amanhã a farei voar.

No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:

- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!

A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.

Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergue-se, soberana, sobre se mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez mais para o alto. Voou... voou... até confundir-se com o azul do firmamento...

E Aggrey terminou conclamando:

- Irmãos e irmãs, meus amigos! Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nós ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Por isso, companheiros e companheiras, abramos as asas e voemos . Voemos como as águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar.

(Autor: Leonardo Boff)

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Grande abraço
Luis Esteves

sexta-feira, 6 de maio de 2011

HISTÓRIAS DA BOLA

São Paulo adota tecnologia GPS em atletas para evitar "migué"

FONTE: TERRA
http://esportes.terra.com.br/futebol/copadobrasil/2011/noticias/0,,OI5115689-EI17245,00-Sao+Paulo+adota+tecnologia+GPS+em+atletas+para+evitar+migue.html



06 de maio de 2011 • 17h42
Notícia

Fernandinho aprova nova tecnologia do São Paulo
Foto: Luiz Pires/Vipcomm/Divulgação

O São Paulo vai receber nos próximos dias um relógio com tecnologia GPS para auxiliar os jogadores na preparação física durante os treinos e evitar uma possível falta de comprometimento dos jogadores nas atividades.

O objeto transmite a um computador a frequência cardíaca do atleta, o esforço na atividade, as distâncias percorridas com velocidade e se o trajeto pedido pelos preparadores físicos foi alterado. Ou seja: se um atleta quiser tentar enganar a preparação, logo será identificado.

O atacante Fernandinho gostou da ideia. "É bom para todos nós, pois vamos dar o máximo sempre", disse o atleta, que se recupera de contusão e já retornou aos treinamentos no gramado. Outros clubes do Brasil, como Cruzeiro e Criciúma, já fizeram uso dessa tecnologia importada.

OBSERVAÇÃO:

Minha dúvida é, será que o GPS irá evitar o migué no jogo?
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HISTÓRIAS DA BOLA
TEXTO RETIRADO E ADAPTADO DO MEU PRÓPRIO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
2008
A HOLANDA DE 1974




4.7.1. Origem

 
Em 1970 a seleção brasileira encantou o mundo com um futebol mágico, onde a movimentação e os contra ataque rápido, tanto utilizando de passes curtos como lançamentos eram a principal característica, pois havia jogadores com talento suficiente para isto, e a preparação física já tinha um papel determinante, principalmente após 1966. Então, como a maioria das evoluções que foram apresentadas na historia do futebol, talvez a maior de todas, aconteceu na copa do mundo da Alemanha, em 1974, e foi realizada pelo selecionado holandês, comandado pelo então treinador Rinus Michels.

Michels, que fora jogador do Ajax, era um centroavante, um artilheiro, e assim como Alf Hamsey que era defensor, trouxe de seus tempos de jogador a mentalidade ofensiva, que mais tarde se tornaria símbolo das equipes holandesas, uma escola que a partir dele, começou a ser desenhada como uma das maiores do mundo em termos culturais. Antes disso, o futebol holandês não tinha nenhuma expressão no futebol mundial.

Já no início dos anos 70, Michels conseguiu conquistas importantes na Holanda e na Europa, e acabou vencendo em 1971, 1972 E 1973 a Champions League, maior torneio de clubes do planeta. Então no ano de 1974 assumiu a seleção holandesa, a dois meses da copa, com a missão de tentar fazer apenas um bom trabalho e colocar a seleção num lugar honrado, já que ate então este país não tinha nenhuma tradição em copas do mundo. Dois meses depois o mundo veria o que a crônica esportiva chamou de “Futebol Total”, onde todos jogavam, todos atacavam e todos defendiam. Era a pelada organizada como diria Tostão.
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4.7.2. A formação da equipe

A concentração para formar a equipe começou dia 21 de maio de 1974. Michels utilizou uma metodologia de treinamento que valorizava muito a parte física, segundo Johann Cruyff , jogador e capitão daquela equipe, o método de trabalho utilizado por Michels foi diferente dos que se trabalhava na época. Deu ele ênfase a parte aeróbia, buscando uma resistência específica para o modelo de jogo que viria pela frente, este foi um dos pilares da construção daquela forma de se interpretar o futebol.
Cruyff (1974) cita:

"Nos primeiros dez dias fomos exigidos em fortes treinamentos. Michels nos fez correr, correr e correr, dar voltas e mais voltas, até um total de duas horas pela manhã e outro tanto de tarde, o que nos parecia exageradíssimo, tendo em conta que o ideal era treinar duramente no princípio, para depois ir fazendo decair o ritmo, mas que não teríamos tempo o suficiente para treinar forte (CRYFF, 1974 p. 33)."

Após essa seqüência de treinamentos a seleção holandesa fez uma série de amistosos e jogos-treino, onde em nenhum deles obteve um resultado satisfatório, com exceção de uma partida contra a Argentina, fora este todos os jogos foram muito ruins.

Michels e os jogadores, mesmo com os maus resultados sabiam os motivos. Primeiro, haviam treinado muito forte, e a força lhes fugia, e o fator mais importante: historicamente as equipes holandesas não tinham uma tradição respeitável, e a cada partida boa que faziam, correspondia a cinco ruins e eles sabiam disso, e chegaram à conclusão de que isso acontecia devido ao culto excessivo que os jogadores tinham em seus clubes de origem, a seleção era formada por cinco jogadores do Ajax, e mais quatro ou cinco jogadores do Feyjenord. Ambos jogavam em modelos diferentes e os atletas do Ajax não queriam aceitar o modelo do Feyjenord, nem estes o modelo de jogo do Ajax.


Então, segundo Cruyff (1974, p.34), “Michels reuniu os jogadores e disse qual ia ser a tática utilizada e quem estivesse de acordo e disposto a jogar conforme a sua tática podia permanecer na seleção, quem não estivesse poderia arrumar as malas e ir para a casa”. Os jogadores pensaram, e com a liderança de Cruyff, conseguiram formar um grupo voltado ao trabalho em equipe, onde o lema era ajudar o companheiro sempre que este precisasse. Na verdade esta cultura sempre esteve presente no sistema socio-econômico holandês.


Cruyff (1974) cita:



"A cabo de uma semana, perguntei aos companheiros, um por um, se aceitavam (a filosofia de Michels). E logo lhes explicava que, se aceitavam, tinha que ser com dedicação total, com espírito de colaboração e de luta, com moral de vitória, com mentalidade voltada para o trabalho que tínhamos por fazer. “Aquele que não está conosco, está contra nós”. Assim começou a se forjar o espírito do time, foram-se contornando as pequenas questões, e logo estávamos todos muito compenetrados e ansiosos de que tudo nos saísse na medida dos nossos desejos (CRUYFF, 1974 p. 34)."
E assim foi construído o espírito da equipe holandesa, segundo Cruyff (1974), uma equipe que estreou dia 15 de Junho, contra o Uruguai, em Hanôver, jogando um futebol novo, na equipe havia muitos homens jogando pela primeira vez nas posições, muitos improvisos, jogadores nervosos, mas ao entrar em campo conseguiram combinar com perfeição e jogaram um belo futebol, com uma movimentação intensa e inúmeras oportunidades de gol. A Holanda acabou vencendo por 2 x 0, mas deixou a impressão de que ali nascia uma nova concepção de jogo.

O curioso é que segundo o próprio Michels, em entrevista e um documentário sobre futebol, afirma que o Futebol Total, marca registrada de sua equipe talvez já fosse aplicado por seleções como a da Áustria, o Wunderteam e a Hungria de 1954. (HISTÓRIA DO FUTEBOL, 2005).


4.7.3.   Desenho do Sistema Holandês
4.7.4. Funcionamento

O fato é que esta seleção holandesa inventou uma nova maneira de jogar futebol, até então nunca vista, havia sim um pequeno rabisco deste estilo de jogo que foi desenvolvido pela seleção brasileira em 1970. Um time que jogava um futebol vistoso, entre toques rápidos e contra ataques, com bastante movimentação, mas a equipe holandesa elevou este estilo de jogo a sua cultura, uma cultura ofensiva de seu treinador. A equipe apresentava uma movimentação espantosa, em que poucos eram os jogadores que não apareciam para dar opções de passe, os jogadores não guardavam uma posição fixa como o de costume até então (especialização de posição), era comum ver o lateral esquerdo Krol no meio da área, ou Cruyff atuando na linha de defesa, era uma equipe polivalente, atacava em conjunto, e defendia também em conjunto.



Embora haja diversas versões para o sistema de jogo, o mais certo segundo Tostão (1997) é que a Holanda jogava em um 4.3.3 no qual as linhas atuavam bem perto uma da outra, no qual Cruyff ocupava a posição de atacante central, jogavam também com pontas bem abertos, costumavam também atuar avançados, pois segundo Rud Krol,lateral e um dos líderes desta seleção, era mais inteligente jogar no campo do adversário, pois só se corria 30, 40 metros, sendo que se tivesse que jogar o campo todo teria que se correr 70, 90 metros o que naturalmente cansaria mais, escola que perdura até os dias de hoje na Holanda. Mas isto era apenas um mero posicionamento, quando a bola rolava os jogadores se movimentavam e cobriam espaços deixados pelos companheiros, e isto deixava as defesas adversárias constantemente em apuros, ou em inferioridade numérica contra os holandeses.

4.7.5. O Pressing


Uma das principais características da seleção holandesa, era a forma como roubava a bola dos adversários. A equipe se compactava de tal modo que não dava espaços para o adversário jogar, e este era o pensamento do “Futebol Força” criado pela Inglaterra em 1966. Essa marcação foi chamada de Pressing, ou simplesmente Pressão, os jogadores adversário que recebiam a bola eram sempre pressionados por diversos holandeses, e quando estes roubavam a bola saiam rapidamente com o objetivo simples de fazer o gol, com toques curtos ou lançamentos, procurando fazer sempre ultrapassagens entre linhas do adversário, princípio que até hoje cultivam, e pode ser visto por exemplo no FC Barcelona dos dias atuais.

4.7.6. Triangulações

Outra característica apresentada pelo sistema holandês, era a forma como os jogadores faziam as aproximações, movimentos necessários para a troca de passes curtos. Segundo Johann Cruyff e Ruud Krol, o passe curto, de dez metros era o mais importante, juntamente com a movimentação em triângulos, pois segundo eles nesse tipo de movimentação é possível olhar no olho do companheiro e ver aonde vai à bola, sendo assim possível antever a jogada (CRUYFF, 1974).


4.7.8. O Futebol Total

A este futebol ficou conhecido como “Futebol Total” por exigir dos jogadores uma gama de qualidades no qual a maior delas, segundo o próprio Rinus Michels era a inteligência. Segundo eles oito dos seus onze jogadores possuíam uma inteligência acima da média, o que os possibilitava perceber e corrigir erros durante o jogo, em questão de segundos, improvisando e decidindo tudo rapidamente. Todos atacavam e todos defendiam, eis daí o termo Futebol Total.

O Futebol Total nasceu de uma junção do Futebol Força, jogado pelos europeus, e o Futebol Arte, jogado pelos sul-americanos, mas com um maior objetivo de vencer, deixando de lado dribles desnecessários e a falta de objetividade. É certo que este estilo de jogo influenciou o mundo todo, os jogadores começaram a ter uma maior polivalência de posições, a movimentação aumentou muito, buscando em outros esportes adquirindo ate características, como o Futsal e o Basquete, pois ao mesmo tempo em que os espaços em campo diminuíram muito com o aumento da capacidade de marcação, resultado de uma preparação física que permitia marcar e jogar, a única forma encontrada para ultrapassar esta barreira era a movimentação, a triangulação, o que a seleção holandesa executou com extrema eficiência. Essa movimentação na verdade foi uma resposta ao encurtamento de espaço oferecido pelo então Futebol Força, que tinha primeiro como objetivo não deixar jogar, para depois se preocupar em atacar e construir jogadas ofensivas.

Este estilo de jogo nunca mais foi repetido, (até o Dream Team do FC Barcelona dos anos 80/90 e u atual time do clube, treinado por Joseph Guardiola, que apresenta muitos traços desta equipe), talvez por nenhuma equipe após o fato ter contado com jogadores tão inteligentes, mas a influência causada pelos holandeses, e a escola criada a partir dali, esta sim, dura até os dias de hoje, e sempre terá influencia sobre a evolução do futebol. Michels em entrevistas diversas inúmeras vezes que um dos fatores determinantes dentro do sistema de jogo holandês e da filosofia proposta era a inteligência de seus jogadores, segundo ele oito ao menos de seus onze titulares tinham um QI acima da média, o que facilitava em muito o entendimento das movimentações e ocupações de espaço utilizado pela Holanda (ZERO HORA, 2003).

4.7.9. O 4.3.3 Clássico e o 4.3.3 Moderno

Após o aparecimento oficial do 4.3.3 em 1962, com a seleção brasileira na copa do mundo do Chile, ocorreram diversas modificações no funcionamento dos sistemas e modelos de jogo das equipes e seleções de alto nível. Portanto o 4.3.3 que pareceu em 1962, não é o mesmo 4.3.3 que a seleção holandesa utilizou em 1974, dentre os dois sistemas podemos identificar as seguintes mudanças segundo Drubscky (2003):


4.7.10.   Aplicação Prática

Na Figura 34 podemos identificar perfeitamente as linhas do sistema 4.3.3, com uma linha defensiva de quatro jogadores, uma linha média com três, e na frente uma linha com mais três jogadores (na foto não aparece o Ponta Esquerda). Esta e a configuração do sistema de jogo 4.3.3 Moderno, e também era a do 4.3.3 Clássico.


4.7.11. Evolução

Componente Tático:

• Desenvolvimento da Pressão ou Pressing, consequente aumento da capacidade física de resistir a uma maior intensidade de jogo;

• Futebol Total = Todos Atacam e todos defendem;

• Intensidade maior nas ultrapassagens e infiltrações;

• Utilização dos espaços vazios para futuras ocupações;

•Criação de superioridade numérica na zona da bola;

• Infiltrações de todos os lados, todos os jogadores eram homens surpresa, com algumas estruturas fixas;

• Abertura do jogo em amplitude e profundidade, em imagens e vídeos da seleção  holandesa percebe-se sempre jogadores bem abertos para dar opção de passe, e situações de retirada da pressão;

Componente Físico:

• Maior resistência, devido à maior intensidade nas movimentações e ultrapassagens.

• Jogadores de diferentes biotipos, alguns altos, outros baixos, mais adaptados a funções variadas, mas menos fortes que os do Futebol força.

Componente Técnico:

• Jogadores menos virtuosos, mas mais eficientes tecnicamente, com muito senso de precisão;

• Passes curtos, com menos de 10 metros davam ênfase ao modelo de jogo;

• Viradas de bola constantes;

• Bolas por cima da defesa em diagonal, buscando jogadores que entravam pelas costas da defesa;

Componente Psicológico:

• Maior valorização do espírito de grupo, muito mais coletividade;

• Ajuda mútua dentro da equipe, maior solidariedade.
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Grande abraço
Luis Esteves